Do Testamento Espiritual de Santa Madre Coleta, OSC
“Reconhecei, caríssimas filhas, vossa vocação, grande dignidade e justa perfeição. Muito prejudicial é a ignorância; o conhecimento é fecundo. Reconhecei, pois, onde haveis de entrar pela porta da inspiração divina e da amada vocação. Nosso doce Salvador afirma: Ninguém pode vir a mim, se meu Pai não o atrair (Jo 6,44); pela inspiração. Esta feliz entrada no fértil campo da perfeição evangélica, nada mais é do que a renúncia ao mundo, à carne, à própria vontade. Assim diz Jesus, bendito, nascido da Virgem: Se alguém quer vir após mim, renuncie-se a si mesmo e tome sua cruz (Mt 16,24), sem omitir a penitência por causa dos pecados cometidos, para não ofender a Deus e melhor conservar a graça divina.
Considerai, portanto, caríssimas filhas, que fostes gratuitamente chamadas à perfeição da obediência. Obedecei sempre e em tudo que não ofenda a Deus. Jesus fez-se obediente até a morte (FI 2,8). Não basta obedecer por algum tempo ou apenas em uns pontos, mas importa obedecer em tudo que não for contrário Deus, a alma e a santa regra. Não prefiramos nosso modo de ver ao dos superiores.
A verdadeira sabedoria é submissa a Jesus e à doce Virgem Mãe. O verdadeiro obediente, por causa de Deus, simplesmente faz aquilo que está fazendo, e a nada atende senão à verdadeira obediência, e isso com reverência, como se recebesse a ordem da boca do próprio Jesus; assim o cumprimento do preceito toma-se mais fácil de acordo com a condição humana e diante de Deus é mais preciosa a obediência humilde, porque da desobediência provêm males.
Mais vale uma só oração do obediente do que cem mil do desobediente. Se obedecermos a Deus, ele também Vos obedecerá. Além da renúncia a si mesmo; nosso Senhor quer que carreguemos nossa cruz, isto é, o nosso voto de santa pobreza. A cruz é pesada, quando desejamos possuir algo além daquele que carregou sua cruz sobre os ombros e nela se dignou morrer.
Amai, filhas caríssimas, amai esta preclara virtude, a exemplo de Jesus Cristo, de nosso glorioso Pai São Francisco e de nossa mãe e senhora, Santa Clara. Ficai contentes no meio das necessidades, para mais facilmente chegardes ao reino ao qual fostes chamadas, através da mesma pobreza que livremente prometestes observar. Vivei, portanto, como verdadeiras pobres e assim permanecei até a morte, caríssimas filhas, como nosso doce Salvador fez por nós na cruz. Como no mundo há poucos que amam tal pobreza, temos melhor oportunidade de amá-la, após a santa obediência, que acima de tudo vos recomendo.
Guardemos fielmente o que prometemos e, se por fragilidade humana cometermos alguma falta, sempre e sem demora levantemo-nos pela santa penitência, empenhadas em viver bem e ‘morrer santamente. O Pai das misericórdias, o Filho por sua santa paixão e o Espírito Santo bendito, fonte de paz, santidade e amor, nos encham a todas de suas consolações. Amém.”
Fonte: E.S.M. Perrin, La belle vie de Sainte Collete de Corbie, Paris 1920, p.274-277