Virgem e religiosa, reformadora da Segunda Ordem Franciscana. Deixou-nos suas exortações em seus escritos: Constituições, Sentimentos sobre a Regra e Testamento Espiritual. Em 1482 foi declarada bem-aventurada e em 1807, Pio VII proclamou-a santa.
Festa litúrgica, 7 de fevereiro
(Calendário Romano-Seráfico)
Em 1381, numa pequena cidade da França chamada Corbie, bem conhecida por crescer à sombra de uma grande Abadia Beneditina, nasce Nicolette Boellet, esperada e desejada por longos anos por um casal já idoso, Robert Boellet, um modesto carpinteiro, e Marguerite Moyon. Os pais atribuem o milagre a São Nicolau a quem pediram a graça de terem um filho, pois Margarida contava já com seus 60 anos. Por isso deram-lhe o nome de “Nicole”, sendo chamada carinhosamente de “Nicolette”, e mais tarde “Colette” (Coleta). Robert trabalhava como dependente do Abade Beneditino, Raoul de Roye. Como quase todos na pequena cidade, ele devia o seu discreto bem estar material à Abadia, que dava meios de subsistência, crescimento civil e espiritual à região. A mãe é profundamente cristã, de uma espiritualidade forte, austera e penitente, marcada por um grande amor ao Crucificado. Daí vem a origem do amor ardente e singular pela Paixão, que a Santa de Corbie deixará em seus escritos.
Ainda adolescente, Coleta, com a morte dos pais, se encontrou sob os cuidados de Dom Raoul, que foi nomeado pelo falecido pai como tutor da jovem. O Padre Abade, já que não conseguia-a convencer a casar-se com um bom marido, queria, naturalmente, vê-la beneditina. Coleta sente-se impelida por um desejo de viver a pobreza de Cristo, atraída pela vida franciscana que conhece pela vida de São Francisco, e não segue os conselhos do tutor. Sente que para seguir o Filho de Deus deve caminhar sobre a estrada do Evangelho que diz: “Vende o que tens e dá aos pobres”. Um monge a encoraja e ela distribui a herança paterna aos pobres e, livre de todas as coisas terrenas, passa alguns meses em Amiens em oração sob os conselhos de um pai espiritual. Ao retornar a Corbie ingressa em uma comunidade de Beguinas e permanece apenas por um ano, pois Deus lhe pede algo diferente.
Encontra-se com o guardião dos franciscanos de Hesdin, Frei Pinet, um verdadeiro homem de Deus, que lhe sugere a vida eremítica. Coleta aceita com grande entusiasmo esta proposta que responde à sua sede de Deus. Depois de muita insistência, consegue convencer o Abade, que se ocupa dos preparativos materiais e manda construir um pequeno reclusório junto à igreja de Santo Estevão mártir. No dia dos Estigmas de S. Francisco, acompanhada por uma longa procissão, Coleta veste o hábito da Ordem Terceira Franciscana e encerra-se em uma pequena ermida, sob o voto de clausura perpétua. A jovem tem 21 anos.
No pequeno eremitério, os dias passam intensos, feitos de longas e amorosas orações. Plenamente consciente das necessidades dos irmãos, Coleta, caridosamente, divide o pouco que lhe trazem com os que lhe vêm pedir. Não faltam porém as insídias diabólicas que investem fortemente sobre ela. A Providência, porém, reserva-lhe um outro caminho. Através de uma visão, o Senhor a faz compreender que quer servir-se dela para reformar a Segunda Ordem Franciscana. Depois de muita resistência, e em um sério discernimento, pronuncia o seu “sim” à vontade de Deus misteriosa, que parece contrastar fortemente o caminho por ela escolhido.
O franciscano Frei Henrique de La Baume, é um homem cheio de Deus, desejoso de ver a sua Ordem voltar para à pureza evangélica das origens. Faz a intenção de ir em romaria à Terra Santa para receber luz a respeito de sua missão, mas muda de rota e chega junto à reclusa de Corbie. O encontro é decisivo e ambos descobrem serem movidos pelo mesmo estímulo interior. Frei Henrique obtém a dispensa do voto de clausura perpétua para Coleta e uma audiência com o Papa.
Com 25 anos, Coleta deixa o eremitério e se dirige à cidade de Nice, onde reside Bento XIII. Trata-se de um antipapa ao qual a França presta obediência neste período difícil da história da Igreja: o cisma do Ocidente. A jovem, como tantos outros santos, reconhece sua autoridade papal. Deus atua o seu desígnio também através dos erros e fraquezas dos homens. O papa a recebe bondosamente e a compreende plenamente. Ele mesmo a veste com a hábito das Clarissas, concedendo-lhe professar imediatamente a Regra de S. Clara, e a elege senhora Madre Abadessa em perpétuo de toda a Reforma. Mas a mesma preferirá sempre ser chamada apenas de Irmã Coleta.
Inicia sua missão que, por quarenta anos, a fará peregrina na França, Holanda, Luxemburgo e Bélgica. De agora em diante a contemplativa não viverá a sua relação com Deus apenas no claustro, mas também nas estradas a lombo de mula ou sobre uma carroça oscilante no longo caminho que percorrerá nas fundações e reformas. No total serão 17 mosteiros: Alarde de Baume (1406), Besançon (1410), Auxone (1412), Poligny (1415) e quinze outros mosteiros na França e nos Países Baixos. Moulins (1421) e Aigueoerse (1422), Orbe (1428) Le Puy en Velay (1428), Castres (1428), Gand (1429), Lèsignán (1431), Le Puy (1438), Heidelberg (1438), Hesdim (1440), Amiems (1443), Pont à Mousson (1447), Gand (1449), entre outras. O empenho mais intenso desses anos é formar as jovens que acorrem sempre mais aos mosteiros e tornam urgente a necessidade de continuar a fundar. Admira-se o seu amor pela clausura que, profundamente enraizado nela, sabe transmitir às irmãs. O viver reclusa é para Coleta, como foi para a Mãe Santa Clara, um meio de realizar aquela pobreza total que se consuma no aniquilamento de Cristo na Cruz.
Coleta tem uma profunda vida de oração. Como os seráficos pais Francisco e Clara, também ela reza à noite, enquanto as irmãs dormem. Sua devoção está intimamente ligada à Eucaristia. Em suas biografias são mencionadas algumas visões em que Cristo lhe aparece. Quando, certa vez, o sacerdote esquece de lhe dar a Sagrada Comunhão, é o próprio Jesus quem lha dá!
Em 1442, S. João de Capistrano, como Delegado pontifício, viaja ate à França com a intenção de unir o movimento da Reforma dos Frades Menores Observantes ao de Madre Coleta. No entanto, assimilar os mosteiros reformados à outros significaria destruir tudo o que foi construído em quase 40 anos! Dois santos se acham no pequeno locutório de Besançon, mas não se compreendem. Após três dias de oração, o Santo Frade chega a conclusão que não deve impedir o caminho de Coleta, pois Deus mesmo o havia revelado que, na Igreja de Cristo, há lugar para diversas manifestações de um mesmo carisma.
São Vicente Ferrer vai ao mosteiro de Besançon para falar pessoalmente com a “Santa Madre gloriosa” sobre sua vida espiritual. Nesta ocasião lhe dá o seu crucifixo de missionário que trazia sempre consigo em sua pregações. Em 1429, Santa Joana D’Arc encontra-se em Mouins para procurar reforços antes da batalha. Segundo alguns biógrafos, Santa Coleta e a Jovem Guerreira teriam se encontrado no Mosteiro de Moulins.
Já no fim de seus dias, em 1446, aos 65 anos, a Serva dirige-se ao mosteiro de Bethlém, em Gand, para exortar e animar suas irmãs. Em meados de 1447 despede-se dos seus irmãos e irmãs, suplicando que amem a Deus fiel e lealmente com todas as forças. Aos 26 de fevereiro confessa-se pela última vez e recebe a Unção dos Enfermos. Na manhã de 4 de março é afetada por uma dor desconhecida que persistirá até sua agonia. Depois de ouvir a Santa Missa, é levada à cela. Ao encontrar-se diante de um pequeno feixe de palha, disposto entre dois pedaços de madeira, formando um grande sinal da cruz, diz: “este é meu último leito”. Como sempre, o véu que lhe cobre a cabeça é o que lhe foi dado por Bento XIII. Tira do leito o travesseiro, que uma irmã carinhosamente colocara sob sua cabeça. Deseja morrer como sempre viveu. Na segunda-feira, 6 de março de 1447, dorme no Senhor.
Deixou-nos suas exortações em seus escritos: Constituições, Meditação sobre a Regra e Testamento Espiritual. Em 1482 foi declarada bem-aventurada e em 1807, Pio VII proclamou-a santa.
Fontes:
- As clarissas pelos séculos (1400-1500) traduzido por Ir. Mª Benvenuta, OSC
- Walled in light, Mother Mary Francis