“Perto de seu fim, chegando a Paixão, tomou princípio de humildade, vindo sobre um jumento à cidade de Jerusalém, onde deveria receber a morte” Sta. Eustóquia de Messina, OSC
Do “Livro da Paixão” de Santa Eustóquia de Messina
Aproximando-se o termo, o qual a divina Providência eternamente havia estabelecido, em que o seu Filho Unigênito, encarnado no ventre virginal, viesse a sofrer a Paixão e a morte horrível da cruz para resgatar a geração humana, este benigníssimo Jesus, como em todo o tempo de sua vida e em todos os seus atos demonstrou suma humildade, assim perto de seu fim, chegando a Paixão, tomou princípio de humildade, vindo sobre um jumento à cidade de Jerusalém, onde deveria receber a morte
Havendo ele feito a ceia, seis dias antes da Páscoa, com os seus discípulos em Betânia, cidade de Maria e de Marta e de Lázaro, cidade que distava cerca de duas milhas de Jerusalém, e feita a mesma ceia em casa de um certo Simão leproso, amigo e doméstico de Maria e de Marta, e na qual Maria Madalena derramou um frasco de unguento precioso sobre a cabeça do Senhor Jesus, e feita a ceia, partindo com os discípulos e indo sobre o monte das Oliveiras, onde sempre à noite se reuniam, o qual estava pouco distante da cidade de Betânia, depois, na manhã do dia seguinte, ou seja, a manhã de domingo, que é o domingo das oliveiras, esse dulcíssimo Jesus, chamando os seus discípulos, disse-lhes: “Ide à cidade que está diante de vós, onde encontrareis uma jumenta amarrada, com o seu jumentinho; soltai-o e trazei-o a mim. E se alguém vos contradisser, dizei-lhe que o Mestre necessita dele e imediatamente vos deixara trazê-lo.”
E indo os obedientes discípulos, encontraram tudo como lhes havia dito o Mestre. E recebida a licença dos senhores dos animais, trouxeram a um e outro ao seu Mestre. E subindo o doce Jesus sobre a jumenta, começaram a descer o monte e caminhavam para Jerusalém.
E tendo caminhado um pouco, desceu da jumenta e montou sobre o jumentinho.
E chegando Ele assim acompanhado e circundado de seus discípulos, estando na descida do monte, grande multidão de pessoas, as quais tinham ido a Betânia por ouvirem a novidade do milagre de Lázaro, que havia ressuscitado, ouvindo que o Senhor Jesus descia do monte vieram ao seu encontro, e para fazer-lhe maior honra, alguns deles, despojando-se das vestes, as estendiam sobre a terra, para que o jumentinho sobre elas passasse.
Alguns outros erguiam galhos de oliveira e cortavam ramos e folhas e os lançavam por terra; e parte andando adiante, parte seguindo, gritavam cantando: “Hosana, Filho de Davi; bendito aquele que vem em nome do Senhor.” E com estes louvores e cantos, acompanhando-o, introduziram-no nas portas de Jerusalém.
E vendo o Senhor Jesus a cidade de Jerusalém, movido de compaixão, começou a chorar sobre ela. E, entrando pela sua porta, os fariseus e escribas, tendo-lhe inveja de tanta honra, diziam: “Mestre, repreende os teus discípulos; Tu não ouves o que eles dizem?” E as criancinhas diziam: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor.”
Aos quais Ele respondeu: “Em verdade vos digo que, se estes calarem, as pedras gritarão.”
E tendo entrado então no templo, e ali encontrando aqueles que trocavam dinheiro e que vendiam bois e ovelhas, os expulsou para fora do templo, dizendo: “A minha casa e casa de oração e vós a fizestes covil de ladrões.”
E depois, tendo curado muitos enfermos, cegos e coxos, que estavam no Templo, disputou com os escribas e fariseus.
E sendo já a hora das vésperas, não havendo ninguém que o convidasse à sua casa, partiu de Jerusalém com os seus discípulos e retornou a Betânia, à casa de Marta.
E depois, à noite, segundo o costume, recolheu-se com seus discípulos sobre o monte das Oliveiras, admoestando-os e ensinando-os.
Assim, pensa aqui, alma, com piedosa compaixão, a grande humildade do doce Jesus, o qual nos mostra, por seu exemplo, como é falso o apetite de honras mundanas, que, vendo ele vir-lhe ao encontro a grande turba para fazer-lhe honra, tomou a vileza de um jumento, vilíssimo animal; pois era esse jumento reservado ao serviço comum dos pobres.
Pensa aqui devotamente, com piedosa compaixão e considera os discípulos que circundavam o seu Mestre, plenos de grande alegria, vendo renderem-lhe tanta honra.
E tu, juntamente com eles, aproximando-te do jumento, acompanha o suavíssimo Jesus até Jerusalém, e dele não te afastes, pensando-te bem-aventurada de poder tocar a fímbria de suas vestimentas.
Além disso, tem compaixão do teu Senhor, que, sendo-lhe feita tanta honra, não encontrou em toda a cidade, quem o convidasse à sua casa, e oferecesse a sua hospitalidade.
E voltando-te para ele, com lágrimas e humildade, fala-lhe e dize-lhe:
“Ó dulcíssimo Jesus, faze-me digna de receber-te como hóspede e dize-me aquilo que disseste a Zaqueu: ‘Desce, que hoje me convém pousar em tua casa’. Faze-me digna de receber-te em meus braços, doce Jesus, que eu possa dizer aquilo que está escrito nos cânticos: ‘Ó meu amado, descansa em meu peito; agarrei-me a ele e não o largarei’.” (Ct 2,16; 3,4)
(O livro da Paixão. Cap. II)