A traição de Judas

“Como na segunda e terça-feira Jesus retornou a Jerusalém, e como na quarta-feira foi vendido por Judas aos Judeus”. (Sta. Eustóquia, OSC)


Do “Livro da Paixão” de Santa Eustóquia de Messina


Na manhã seguinte, isto é, segunda-feira, o dulcíssimo Jesus, com seus discípulos, retornou a Jerusalém e esteve o dia todo no Templo a disputar com os judeus; à noite retomava a Betânia e ceados em casa de Marta, depois iam para o monte, permanecendo ali à noite. E assim fez no dia seguinte, isto é, na terça-feira.

Na quarta-feira não tornou mais a Jerusalém, mas permaneceu em casa de Marta, ou sobre o monte. E naquele dia os príncipes dos sacerdotes e escribas congregados no palácio de Caifás, não podem do mais suportar por inveja o Senhor Jesus, fizeram conselho de matá-lo, e diziam: “Guardemo-nos de fazer isto no dia da festa da Páscoa, que se aproxima, para que não se faça tumulto entre o povo.“

E fazendo esses príncipes esses discursos, eis Judas, iniquíssimo, o qual havendo deixado Cristo com os outros discípulos, e vindo à cidade, e tendo sabido que os judeus se congregaram para tratar da morte de Cristo, entrou junto deles e disse: “O que me quereis dar, e eu vo-lo darei nas mãos? “ Os quais, vendo e ouvindo que ele era dos discípulos, se oferecia para traí-lo, e ele, pedindo-lhes somente trinta moedas, ofereceram-lhe e prometeram dar-lhe ajuda quando lhes pedisse.

Pensa aqui, devotamente, a dileção e o amor do Senhor Jesus para com as suas diletas Maria e Marta, em casa das quais se reunia; e fala para o amado dizendo: “ó dulcíssimo Senhor, como foram bem-aventuradas aquelas tuas diletas, as quais fizeste dignas que fossem tuas hospedeiras.”

E pensa com que diligência serviam ao seu amado Mestre; e especialmente como Maria não podia separar-se dele, estando também atenta ao seu doce contemplar.

E assim tu, semelhantemente, como te fosse presente com Maria, olha e contempla o benigníssimo Esposo, tocando-o e, com o rosto banhado inteiro de lágrimas, dele deleitando-te, serve-o juntamente com Marta, dando-lhe água para as mãos e, pedindo-lhe que te dê aquela água da qual, falando com a samaritana, dizia: “Quem bebe da água, a qual eu darei, não terá sede eternamente”.

Ó doce Jesus, dá à minha cabeça água e aos meus olhos fontes de lágrimas, para que banhe inteiros os teus pés, tanto que de ti ouça aquela suavíssima palavra: “Perdoados te são os teus pecados.“


O livro da Paixão, capítulo III