O Senhor Jesus no monte das Oliveiras

“Prostrando-se por terra, entrou em agonia. E, sendo-lhe apresentadas diante dele todas as penas que deveria suportar, orando mais longamente, pela dor que sentia, veio-lhe um suor de sangue que todo o banhava, e corria por terra”. (Santa Eustóquia de Messina, OSC)


Do “Livro da Paixão” de Santa Eustóquia de Messina


Como o Senhor Jesus esteve no monte das Oliveiras, e da oração que fez três vezes no horto.

Tendo chegado o dulcíssimo Jesus sobre o monte das Oliveiras, e entrando no horto, fez sentarem em uma parte deste os discípulos, e chamando três deles, isto é, Pedro, Tiago e João; afastou-se dos outros por um pouco de espaço, e estando com estes, começou a apavorar-se todo, e pleno de dor; e voltando para os três discípulos, fala e diz: “Filhinhos meus, tende compaixão de mim, porque a minha alma está triste até à morte; estai um pouco aqui e velai comigo, até que eu vá ali orar.” E, afastando-se desses quanto seria um tiro de pedra, pondo-se de joelhos sobre a terra, começou com lágrimas a orar ao Pai e dizer: “Meu Pai, todas as coisas te são possíveis, tira de mim este cálice da amarga paixão, que eu devo sustentar. Nada menos, seja feita não a minha vontade, mas a Tua.”

E feita a oração, permanecendo um pouco, levantando-se, retornou aos três discípulos e encontrando-os a dormir, fala a Pedro que se mostrara mais fervoroso, e diz: “Pedro, tu dormes? Que é isto, que não entres em tentação, porque o espírito pronto, mas a carne enferma.” E deixando-os, afastou-se ainda deles para um outro lugar distante um tiro de pedra, e fez oração, como antes. E levantando-se da oração, retornou ainda aos discípulos, e, encontrando-os a dormir, não soube Ele o que dizer. E, deixando-os ainda, foi a um outro lugar, igualmente distante, e prostrando-se por terra, entrou em agonia. E, sendo-lhe apresentadas diante dele todas as penas que deveria suportar, orando mais longamente, pela dor que sentia, veio-lhe um suor de sangue que todo o banhava, e corria por terra. E então, apareceu-lhe o anjo do céu e o confortava. E Ele, confortado, levantou-se e tornou aos discípulos que havia deixado, e encontrando-os a dormir, disse-lhes: “Levantai-vos, agora basta; eis que quem deve me trair está perto. O Filho do homem será traído na mão dos pecadores.”

Permanece aqui, alma devota, e pensa com sentimento aquilo que fez o doce Jesus no horto.

Antes considera, mas não sem abundância de lágrimas, o teu dileto Jesus, quando começa a orar, como se muda inteiramente na face, e como Ele, apenas podendo falar, todo apavorado, diz: “A minha alma está triste até à morte.” E tu, amargamente chorando, aproxima-te d’Ele e dize-lhe: “Ó doce Senhor, ó dileto Mestre, porque tens medo? Mas, porque vieste a este mundo, senão para receber a morte, e para salvar-me? Ó caro Senhor, tu foges à morte? Quem pagará o meu pecado?” Depois volta-te para os discípulos e diz-lhes: “Levantemo-nos e oremos, e choremos, que o caro Mestre nos será tirado.”

Olha ainda, alma dileta, e considera o modo de oração de teu amoroso Jesus, e d’Ele toma o exemplo em teu orar; como humildemente se inclina em terra, e como pede que seja feita a vontade do Pai, não a sua. Vê como ora com grande fervor, até que lhe brotam gotículas de sangue; não uma vez, porém mais, retoma a oração. Pega o exemplo em todas estas coisas, e daqui não te afastes; que tu o acompanhes com grande pranto na tua oração. E fala com ele, dizendo: “Ó delicadíssimo Jesus, em quanta ansiedade vejo-Te colocado, que o sangue corre daquela Face Santíssima.”

Ó Face Belíssima, na qual desejam os anjos olhar, como foste tornada banhada e ensanguentada. Ó meu coração de ferro, porque não te rompes, tendo compaixão pelo teu Dileto, posto em tanta pena e aflição? Minha alma tem compaixão de teu doce Esposo, que tendo tão grande suor, não tem quem lhe dê toalha para enxugar aquela Face delicada, toda ensanguentada. Também considera o fim da oração, como foi pelo anjo confortado; e ainda que não houvesse pedido, não lhe faltou a visitação angélica; e apareceu-lhe o anjo para demonstrar que, às nossas orações, feitas com humildade, o anjo está presente, e as oferece diante de Deus.


(O livro da Paixão, capítulo VII)