A morte na Cruz

“E, em torno da hora nona, emitiu o Senhor Jesus um forte grito, dizendo: ‘Deus meu, Deus meu, porque me abandonasses?”’ (Santa Eustóquia de Messina)


Do “Livro da Paixão” de Santa Eustóquia de Messina


Como o Senhor Jesus recomendou a Mãe ao discípulo, e como o sol se obscureceu, e depois como morreu na cruz.

Estando o dulcíssimo Jesus sobre a cruz, estava perto da cruz sua Mãe dolorosíssima, e com ela, Maria de Cléofas, sua irmã, Maria Madalena e João evangelista: e todos choravam dolorosamente vendo as penas que o seu doce Filho suportava. A mesma dor, pelo que toca à sua Mãe, língua humana não poderia exprimir. E vendo-a o piedoso Filho, movido de compaixão, disse-lhe: “Mulher, não sofras: eis João, que será teu Filho.” E depois, disse ao discípulo: “Eis a tua Mãe.” E esta foi a terceira palavra que disse na cruz.

E em torno da hora sexta, o sol se obscureceu, e fizeram-se trevas sobre toda a terra, até a hora nona. E, em torno da hora nona, emitiu o Senhor Jesus um forte grito, dizendo: “Deus meu, Deus meu, porque me abandonasses?” E esta foi a quarta palavra. E ouvindo alguns ele assim gritar, diziam: “Este chama Elias”, porque dizia, gritando: “Eli, Eli, lama sabactâni” que quer dizer: “Deus meu, Deus meu, porque me abandonasses?”

E depois disto, sabendo o Senhor Jesus que todas as coisas estavam cumpridas, para realizar bem as escrituras, gritou ainda e disse: “Tenho grande sede.” E imediatamente, correndo, um tomou uma esponja de vinagre misturado com fel e pondo-a na ponta de uma cana, a colocou em sua boca. E tendo o Senhor Jesus experimentado, não a quis beber. E esta foi a quinta palavra que ele disse sobre a cruz. Depois disse a sexta palavra: “Tudo está consumado.” E estando um pouco, gritando em alta voz, disse a sétima palavra, isto é: “Pai, nas tuas mãos recomendo o meu espírito.” Dita esta palavra, inclinando a cabeça, rendeu o espírito a Deus.

E eis que imediatamente a cortina que estava no templo, se fez ao meio, houve um grande terremoto, as pedras se rompiam, as sepulturas se abriram e muitos corpos de santos ressuscitaram, os quais, vindo à cidade, apareceram a muitos. E vendo o centurião, e os outros soldados, dos quais era cabeça, o terremoto e as outras coisas que ocorriam, disse: “Verdadeiramente, esse era Filho de Deus.” Mas os Judeus, vendo aquilo que acontecia, retomaram a casa, e as turbas do povo, parecendo-lhes ter feito mal, batiam-se no peito.


Livro da Paixão, capítulo XV