Triunfante sobre a Morte

“E ressuscitando dentre os mortos por força divina, abriu-nos as portas da eternidade e nos mostrou os caminhos da vida”. São Boaventura


Da “Árvore da Vida” de São Boaventura


Jesus, triunfante sobre a morte

Terminada a luta da Paixão, quando o feroz Dragão e o Leão furioso se lisonjeavam de haver alcançado a vitória sobre o Cordeiro, pois morto, começou a resplandecer apenas na alma, que descia aos infernos, o poder da Divindade. O nosso Leão fortíssimo da tribo de Judá, surgindo contra o forte armado, lhe arrebatou das suas garras a presa. Quebrantadas as portas do inferno e presa a serpente, espoliou os principados e as potestades, arrastando-os ao pelourinho, em marcha triunfal (CI 2, 15). Sacudiu fora o Leviatã e lhe quebrou os dentes (Jb 40, 20); pois esse, que havia acometido a Cabeça, sem ter direito a ela, devia perder ainda o que parecia ter sobre os membros.

Então o verdadeiro Sansão, morrendo, deixou desbaratado, no campo, o exército inimigo. Então o Cordeiro Imaculado, com o Sangue do seu testamento, tirou os presos do poço, que estava vazio e sem água (Gn 37, 24). Então, aos que habitavam a tenebrosa região da morte, alvoreceram os claríssimos raios da nova luz, há tanto tempo suspirada.


Jesus, ressuscitado glorioso

Ao raiar o terceiro dia do sagrado descanso do Senhor no sepulcro, Ele que, no ciclo dos dias é o primeiro e o último, Cristo, Virtude e Sabedoria do Pai, derrubado o autor da morte, venceu a mesma morte. E ressuscitando dentre os mortos por força divina, abriu-nos as portas da eternidade e nos mostrou os caminhos da vida. Então sentiu um grande terremoto e o Anjo do Senhor, com vestes brancas como neve, de aspecto cândido e fulgurante, desceu do céu e apareceu, doce, às almas piedosas, severo, aos malvados. Por isso aterrou os brutais soldados e confortou as tímidas mulheres, às quais o mesmo Senhor ressuscitado apareceu antes que aos demais, porque tal favor merecia o afeto de intensa piedade. Sucessivamente foi visto por Pedro, pelos discípulos de caminho a Emaús, pelos apóstolos reunidos, na ausência de Tomé, e em seguida também por Tomé, a quem se mostrou para que Lhe tocasse, e ele exclamou com fé: Meu Senhor e meu Deus!

Assim, por quarenta dias apareceu em muitas formas, comendo e bebendo com eles, nos iluminou na fé com seus argumentos, nos elevou à esperança com suas promessas para, desta arte, com seus dons celestes, nos inflamar no amor.


Jesus, singular beleza

Assim, a belíssima Flor da vara de Jessé, que na Encarnação se abriu, e na Paixão murchou, na Ressurreição tornou a florescer para ser a formosura de todos. Aquele Corpo gloriosíssimo, sutil, ágil e imortal, foi revestido de um resplendor de claridade mais coruscante que o sol, modelo exemplar que é da beleza dos corpos humanos na futura ressurreição. Deles disse o mesmo Senhor: Os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai (Mt 22, 43); este fulgor é a bem-aventurança sempiterna. E si cada justo resplandecerá como um sol, dize-me quão grande será o resplendor do próprio Sol de justiça? Tão grande digo eu que, comparado à luz, mais belo é que o sol e acima das constelações dos astros; e assim será reputado como a beleza soberana.

Bem-aventurados os olhos que o já viram! Mas ditoso serás também tu si um resto de tua estirpe logra contemplar tão desejada luz, dentro e fora claríssima.