“A voz do Espírito Santo é a contrição que fala no coração do pecador. Embora tu a ouças, não sabes donde vem, isto é, de que modo teria entrado no teu coração ou de que modo teria saído, porque a sua natureza é invisível. ” (Sto. Antônio)
Do Sermão para o dia de Pentecostes de Santo Antônio
De repente veio do céu um som, como de vento que soprava impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados (At 2, 2). Som é tudo o que fere a sensibilidade auditiva. Há três espécies: som de voz, se produzido pela garganta; som de sopro, se por uma trombeta; som de percussão, se por uma lira.
O som do vento que soprava impetuoso é a contrição do espírito. O penitente percebe-a como som pelo ouvido do coração. Lemos em S. Joao: “O espírito sopra onde quer”, porque tem em seu poder iluminar o coração, “e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem, nem para onde vai”. A voz do Espírito Santo é a contrição que fala no coração do pecador. Embora tu a ouças, não sabes donde vem, isto é, de que modo teria entrado no teu coração ou de que modo teria saído, porque a sua natureza é invisível.
Nota ainda que este estrondo se produz de três modos: pela voz da pregação, pelo sopro da compaixão fraterna, pela percussão da emenda fraterna. Por estes três modos costuma surgir o som da compaixão no coração do pecador. Com razão se diz pois: “De repente veio do céu um som, como de vento que soprava impetuoso”.
Sobre isso temos uma concordância nas palavras do Êxodo: “Já tinha chegado o terceiro dia e raiava a manhã” (Ex 19,16).
O primeiro dia é o conhecimento do pecado; o segundo, a sua abominação; o terceiro, o arrependimento sincero do mesmo pecado. Ao chegar e ao raiar a manhã da graça, começam a ouvir-se os “trovões” dos gemidos, dos suspiros, das acusações, e a fuzilar os “relâmpagos” das confissões, e “uma nuvem muito densa”, isto é, a obscuridade da penitência, a “cobrir o monte”, ou seja, o penitente, elevado como se fora monte desde o vale das fezes e de misérias; e “o som duma trombeta”, isto é, da boa vida e fama, “atroava muito forte”, para que, onde superabundou o delito, superabundasse também a graça.
E assim todo o “povo” dos demônios, que está no acampamento, se atemoriza. Os demônios estão no acampamento, porque sempre prontos para o combate. Mas quando tiverem visto estas coisas, não ousarão ir para a guerra. Lê-se em Jó: “Ninguém lhe dizia uma palavra, porque viam que a sua dor era veemente”. De fato, quando os espíritos malignos ouvem o som do vento que sopra impetuoso encher toda a casa, ou seja, o espírito do penitente, na qual, sentado, isto é, humilhado, repensa os anos na amargura da sua alma, não ousam ir mais à frente nem dizer-lhe uma palavra de sugestão. […]
Daí o dizer-se no introito da Missa de hoje: “O Espírito do Senhor encheu o orbe da terra, e, como abrange tudo, tem conhecimento de tudo o que se diz”. (Sb 1,7)
Escreve S. Bernardo: “O Espírito Santo fala-nos tantas vezes quantos bons pensamentos tivermos”. Donde a palavra do Profeta: “Ouvirei o que o Senhor Deus falar em mim”; e deste modo eleva o espírito para as alturas.
Fonte: Sermões, Domingo de Pentecostes, III
Compilação: Mosteiro Maria Imaculada