Beata Luísa de Saboia, OSC

Religiosa da Segunda Ordem (1462-1503). O Papa Gregório XVI confirmou, em 1839, o culto prestado deste tempo imemorial à beata.

Memória litúrgica: 24 de julho
(Calendário Romano-Seráfico)


Luísa provavelmente nasceu em Bourg-en-Bresse no dia 28 de julho de 1462, quinta dos nove filhos do Beato Amadeu IX de Saboia e de Iolanda de França, irmã do rei Luís XI. Por parte da mãe era neta do Rei Carlos VII da França e prima de Santa Joana de Valois.
A capital do ducado era Chambery, mas a corte era itinerante para um controle direto dos territórios sob sua jurisdição. A Casa de Saboia já então era proprietária do Santo Sudário, tesouro precioso que acompanhava a corte em seus deslocamentos. Podemos imaginar toda a veneração de que esta relíquia era alvo por parte de Amadeu e da pequena Luísa.
Extremamente religioso e magnânimo, depois de ter assegurado ao seu povo um longo período de paz, o Beato Amadeu morre em Vercelli no dia 30 de março de 1472, aos trinta e oito anos de idade. Luísa herdou do pai uma fé profunda; a mãe, de caráter mais forte do que o esposo, tornara-se regente do ducado há alguns anos.
A menina foi educada admiravelmente por sua mãe. Desde muito pequena dava mostras de possuir qualidades espirituais extraordinárias. Catarina de Saulx, uma das damas de honra de Luísa escreveu sobre ela as seguintes palavras: “Era tão doce e generosa, bem disposta e amável, que despertava o afeto de todos que se deixavam levar por sua atração e conquistar pelo seu encanto”.
A doçura da jovem Luísa atraiu Hugo de Châlons-Arlay, Senhor de Château-Guyon catorze anos mais velho do que ela, membro do ramo deposto dos Senhores de Borgonha.
Os interesses territoriais causavam numerosas guerras. Iolanda selara um pacto com Carlos o Temerário, Duque de Borgonha, mas sendo alvo de uma suspeita de complô, foi presa com os filhos pelo seu aliado (1476). Na solidão de uma prisão não tão rígida, Luísa fez um retiro e conheceu o franciscano Padre João Perrin, que no futuro teria muita importância para ela.
Hugo visitou-a na prisão e entre eles foi crescendo o afeto. Embora Luísa começasse a desejar o retiro na clausura, foi o Padre Perrin quem a convenceu de que também no matrimônio ela poderia viver santamente.
Entrementes, devido a intercessão do Rei Luís XI, Iolanda e os filhos foram libertados. Iolanda morreu no Castelo de Moncalieri no dia 29 de agosto de 1478. Luísa e a irmã Maria foram conduzidas à corte de Luís XI que se considerava tutor natural das sobrinhas. Ele tinha um interesse: o casamento da sobrinha com Hugo de Châlons significava ter um importante aliado. Luísa consente.
As núpcias foram celebradas solenemente em Dijon a 24 de agosto de 1479. Luísa tinha dezessete anos. O Castelo de Nozeroy foi escolhido para morada do novo casal. Hugo se tornara proprietário de um patrimônio considerável. O Senhor de Nozeroy era um homem tão bom quanto rico. De acordo com sua esposa, impôs em seu castelo uma vida perfeitamente católica. Tanto por exemplo como por preceito, os esposos criaram um nível de vida moral e material para todos os que moravam em suas terras e dependiam deles de alguma maneira. Em contraste com os palácios e residências de outros nobres, o suntuoso palácio dos Châlons parecia um mosteiro. Com grande empenho se combatia o costume de jurar ou de usar palavras grosseiras.
Luísa foi a primeira dama a ter uma caixa para os pobres, na qual todos os que viviam ou visitavam sua casa tinham a obrigação de colocar dinheiro, caso jurassem ou dissessem palavras feias. Quando as suas aias praguejavam, tinham de pagar multa: o dinheiro era para os pobres. Se a praga vinha dum fidalgo, esse senhor tinha de beijar o chão. Muitas vezes, depois duma festa mundana, dizia: «Senhor Deus, quanto estou aborrecida! De tudo isto será preciso dar contas». Os decotes desgostavam-na e ela proibia-os às suas damas. Não queria que se jogasse a dinheiro, mas tolerava, caso se tratasse de insignificâncias. E a quem perdia aconselhava: «Dê tudo por Deus, não conserve nada». Preferia sofrer em silêncio, de noite, em vez de acordar pessoas da guarda. Secretamente, gostava de dar grandes esmolas. Maledicências, interrompia-as com decisão. Às suas aias prestava toda a espécie de serviços.
Luísa prodigalizou grande caridade aos enfermos e necessitados, viúvas e órfãos, especialmente aos leprosos. Ela se dedicava pessoalmente na confecção de tecidos para distribuí-los aos pobres ou para ornamentar as igrejas. Nas vigílias das festas de Nossa Senhora, dizia Luísa, 365 Ave-Marias. Rezava muitas vezes o saltério. Confessava-se frequentemente e comungava nas festas.
Enfim, a oração era o fundamento da união do casal. Tão feliz união, entretanto, durou somente dez anos: em 1490 a dor golpeia Luísa novamente. Depois de ter assistido seu esposo até seu sepultamento, restava a ela um único refúgio: a fé. O casal não tivera filhos; Luísa poderia viver como rica viúva no seu castelo, ou contrair um novo casamento, mas seu desejo maior era de consagrar-se ao Senhor.
O Padre Perrin a guiou espiritualmente até seu ingresso no Mosteiro de Santa Clara de Orbe (Vaud, atual Suíça). Ela precisou de dois anos para colocar em ordem todos os assuntos; durante este período usou o hábito dos terciários franciscanos, aprendeu a rezar o Ofício Divino e se levantava a meia-noite para rezar Matinas. Toda sexta-feira se disciplinava. Distribuiu sua fortuna, contestando as objeções de seus parentes e amigos.
Levantava-se muito cedo. Até às 10 horas, ficava em oração e contemplação. Depois do almoço, trabalho manual. Rezava o ofício divino. A seguir ao jantar, falava de Nosso Senhor, lia ou ouvia leituras. Numa palavra, o castelo tomava o aspecto de convento. «Só falta o sino», observava um visitante. Em vida do marido, na Quinta-feira Santa, ele lavava os pés a treze pobres e ela a treze mulheres. Morrendo ele, ela manteve as treze mulheres da Semana santa, mas acrescentou, em todas as sextas-feiras, a lavagem dos pés de cinco pobrezinhas, dando-lhes depois esmola.
Finalmente, em 1492, acompanhada de suas duas damas de honra, Catarina de Saulx e Carlota de Saint-Maurice, foi admitida no Mosteiro das Clarissas Pobres de Orbe. Este mosteiro havia sido fundado pela mãe de Hugo de Châlons, e desde 1427 era ocupado por uma comunidade de Santa Coleta, a reformadora francesa das Clarissas. Muitas vezes Luísa ali fora para rezar e visitar sua cunhada, Filipina, monja naquele mosteiro.
O simples hábito franciscano substituiu as roupas preciosas. Tendo sido um modelo de donzela, de esposa e de viúva, Luísa se tornou um modelo de religiosa. Foi sempre exemplar. Grande era seu espírito de piedade e de oração, em uma atmosfera austera e pobre. Sua humildade era sincera e natural: lavava os pratos, varria, ajudava na cozinha, limpava os corredores e tudo fazia bem e com gosto. A abadessa gostava de lhe dar ordens, só para a ver deixar imediatamente tudo o mais. Escolhia sempre o pior de tudo para si e esforçava-se por cuidar das irmãs doentes, para lhes dar gosto.
Com a mesma simplicidade e naturalidade aceitou e desempenhou o ofício de abadessa quando a elegeram. Mostrou especial solicitude em servir aos frades de sua Ordem, e qualquer deles que chegassem a se hospedar no mosteiro era atendido regiamente; a presença dos padres e dos irmãos era como uma bênção de Deus e nada podia faltar aos filhos do “bom pai São Francisco”.
Escreveu meditações sobre o Rosário e é-lhe atribuído um pequeno tratado sobre a importância da fidelidade à Regra, e os sinais de tibieza num mosteiro. Citemos: “Quando se frequentam demais os locutórios… Quando se leem livros espirituais mais para aprender do que praticar; quando se participam de Capítulos por costume e se dizem culpas a fingir e não para procurar emenda… Quando se tem mais cuidado do exterior que do interior…”. Estes manuscritos foram levados pelas irmãs quando se transferiram de Orbe para Evian, mas hoje estão desaparecidos.
No último período de sua vida Santa Luísa sofreu diversas doenças. Depois de ouvir a leitura da Paixão segundo S. João e segundo S. Mateus, e assistir à Missa do Santíssimo Sacramento, faleceu no meio duma oração sussurrando o nome da Virgem Maria no dia 24 de julho de 1503, aos quarenta e dois anos. Foi sepultada no cemitério do mosteiro. A fama de sua santidade logo se difundiu; as primeiras notas biográficas foram escritas por Catarina de Saulx, sua companheira fiel por vinte anos.
Quando em 1531 as irmãs foram expulsas de Orbe, os seus despojos, bem como os da cunhada Filipina, foram colocados em uma única arca de carvalho, transportada para o mosteiro franciscano de Nozeroy. Durante a nefasta Revolução Francesa o mosteiro foi destruído e se perdeu qualquer pista dos túmulos.
Em 1838, escavações foram feitas em busca da arca, a qual foi encontrada em boas condições. Os ossos de Luísa foram reconhecidos pelo médico David após uma escrupulosa perícia, baseada na altura e idade das duas falecidas. Foram confiados à Mons. Vogliotti, capelão régio, a fim de serem transportados a Turim, com as devidas honras, e colocados na capela interna do Palácio Real, junto ao altar dedicado ao pai de Luísa, o Beato Amadeu IX. O Papa Gregório XVI confirmou, em 1839, o culto prestado deste tempo imemorial à beata.
Com a família de Savoia se deu a unificação da Itália em 1870. O último rei, ao morrer, deixou o sudário de Turim para a Santa Sé.


FONTES:
1 – https://www.santiebeati.it
2- Livro Santos de cada Dia, de www.jesuitas.pt
3- http://heroinasdacristandade.blogspot.com/2016/07/

Compilação e adaptação:
Mosteiro Maria Imaculada

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