Memória litúrgica: 7 de novembro
(Calendário Romano-Seráfico)
Aos 9 de janeiro de 1706, em Veneza, nasce Elisabete Maria Satellico, filha de Pedro Satellico e de Lucia Mander. A pequena nasce com a saúde frágil e delicada, e assim permanecerá sempre.
Em um seio familiar profundamente cristão, recebe desde cedo os rudimentos da fé. É dotada de rara inteligência, e precocemente começa a buscar mortificações e penitências corporais para agradar ao Senhor. Motivada pelos pais dedica-se ao estudo do canto e da música. Os mesmos também providenciam que a menina faça sua primeira comunhão aos nove anos, coisa raríssima na época. Este fervor se mantém vivo nela e a levará a procurar receber o Senhor o mais frequentemente possível. Seu amor por Jesus Eucarístico crescerá com o passar dos anos e será elemento central de sua espiritualidade.
Elisabete deseja consagrar-se ao Senhor sem reservas tornando-se capuchinha. No entanto, é o Senhor mesmo quem se encarrega de abrir-lhe a estrada rumo ao lugar que lhe preparou.
Uma jovem de Veneza, depois de se ter apresentado ao Mosteiro das Clarissas de Ostra Vetere (Ancona), onde devia ocupar-se do canto, não tendo podido tornar-se religiosa por conta da saúde, precisou retornar à família. Poucos anos depois, com o consentimento do confessor, Elisabete pede às monjas para ser recebida no lugar desta jovem.
Com apenas 13 anos, Elisabete, recebendo a resposta afirmativa, inicia os preparativos para a partida. A família opõe-lhe resistência. Contudo, vendo-a tão resoluta, terminam por dar-lhe seu consentimento. Ao deixá-los Elisabete confessará:
“Tal foi a minha pena que o coração parecia querer partir-se, mas o Senhor deu-me tanta força que não derramei uma lágrima”.
Chegado o momento da partida, a jovem embarca em um navio com outras jovens destinadas a diversos mosteiros do estado pontifício. A travessia é tranquila e Elisabete encoraja as companheiras. Quando, porém, desembarca em Senigallia, começa a vacilar e a querer voltar para casa; mas vence com firmeza a tentação.
Finalmente chega ao Mosteiro. As irmãs, vendo-a tão jovem, sem demora colocam-na à prova, fazendo-a tocar e cantar, e ficam plenamente satisfeitas, também pela maneira simples e gentil com que se apresenta.
Começam, no entanto, as dificuldades. O Bispo não quer dar-lhe o seu consentimento para seu ingresso, devido à sua pouca idade. Elisabete permanece numa casa privada por certo tempo.
Depois de alguns meses, movido pela insistência das irmãs, o bispo dá-lhe licença para ser acolhida como educanda, mas não como monja. Mesmo não podendo consagrar-se, Elisabete ingressa com a firme vontade de viver exclusivamente para o Senhor.
Doravante quer ser chamada de Maria Crucifixa, pois seu maior desejo é o de conformar-se em tudo ao Esposo crucificado. É generosa na vida de oração e na meditação da Paixão, na vivência da Santa Regra e na mortificação. A comunidade é animada de grande amor fraterno, o que faz com que a jovem não encontre sérias dificuldades em ambientar-se.
Surgem, porém, problemas em seu ofício de mestra de canto. Por ser inexperiente na arte de ensinar, faltam-lhe as noções pedagógicas necessárias para instruir as irmãs. Abandona-se na oração, e os conhecimentos que lhe faltam são lhe concedidos!
Em seus quatro anos como educanda, as visitas de seus parentes foram-lhe causa de grande perturbação. Estes sofrem imensamente a sua ausência e tentam sempre convencê-la a voltar para casa. Vê-los consiste numa dor que comove às lágrimas até das monjas. A filha, que sofre mais todos, não chora, pois lhe parece que faria desfeita a Deus.
Mas a maior prova deste tempo consiste em sua prova condição de educanda, o que lhe leva à dúvida de ter descuidado o mosteiro. A palavra do confessor, no entanto, dá-lhe segurança. Contudo, a chegada de um confessor extraordinário que lhe dá conselhos opostos, e chega a lhe indicar o mosteiro em que lhe aceitariam como religiosa. Quando as irmãs vêm a sabe-lo, sentem-no grandemente e rogam-lhe que não as deixe, o que aumenta ainda mais a confusão de Maria Crucifixa.
Uma vida entregue a Deus
Neste interim, a diocese é confiada a outro bispo, que finalmente dá-lhe o consentimento. Com exercícios espirituais, a jovem passa a preparar-se para receber o santo hábito. Aos 19 anos, inicia seu noviciado com grande desejo de corresponder plenamente ao dom da vocação. Traz em si um amor ardente pela pobreza, e vive-a com alegria. Para que sua obediência seja contínua, vive em constante intimidade com a Virgem Santíssima, pedindo seu conselho e obedecendo-a em tudo. É assim que a noviça se prepara para a sua Profissão. Aos 19 de maio de 1726, com 20 anos, Maria Crucifixa doa sua juventude ao Senhor com a oferenda total de si mesma ao fazer os santos votos.
Ir. Crucifixa, não obstante seu ofício de mestra de canto dedica-se aos cuidados da casa, da contabilidade e da liturgia. Tem uma grande capacidade de se ocupar com rapidez e eficiência dos diversos ofícios. A fragilidade da saúde é lhe companheira habitual, mas seu espírito vivaz a sustenta. Alegria no silencioso convívio, gentileza nos modos e disponibilidade a ajudar, são características deste jovem irmã.
Quatro anos após a Profissão, sua alma inicia um processo de purificação que perdurará por 10 anos. O assalto das violentas tentações diabólicas alternam-se com arroubos extraordinários e visões místicas, onde encontra forças para sustentar o combate e certeza de não ter sido abandonada por Deus em meio a tanta aridez.
Ao flagelo da alma acrescenta-se a enfermidade do corpo, que a prostra em leito de dores indizíveis. Em obediência ao confessor, pede à Maria Santíssima que venha em seu socorro, e logo lhe vem uma melhora significante que já a possibilita continuar sua jornada sobre uma cadeira. Mais uma súplica, e logo volta a caminhar.
No entanto, as tentações se fazem ainda mais intensas, o que a leva a dizer aos seus 33 anos:
“Encontro-me tão oprimida entre os combates da razão e dos sentidos, que em verdade posso afirmar que padeço grande agonia, não somente do espírito, mas também no sentidos e potências inferiores, que sofrem violências indizíveis e inexplicáveis”.
Nesta ocasião, uma pequena luz a clareia e dá-lhe a certeza de que tudo isso terá fim. De fato, no ano seguinte, emerge do profundo túnel e reencontra uma grande paz. Agora tudo nela está inteiramente orientado para a vontade do Pai.
Uma santa abadessa
Ir. Maria Crucifixa se dá conta de que as irmãs pretendem elegê-la abadessa no próximo Capítulo. Julga-se inapta para o ofício e pede que desistam de seu propósito. No entanto, as irmãs permanecem concordes, e Ir. Crucifixa é eleita abadessa. A mesma declara-se incapaz e renuncia ao ofício, mas o Vigário Geral lhe ordena obedecer e, com lágrimas nos olhos, recebe a obediência das irmãs.
Madre Crucifixa é decidida e amável, capaz de corrigir com suavidade e firmeza. Estimula a observância regular, o amor ao santo silêncio e à vida de oração. Exorta a comunidade e as convence com a força do exemplo. Vela sobre as enfermas e roga a saúde para as mesmas. Por intermédio de suas orações chegam grandes doações de pães e cereais ao Mosteiro. Faz obras de ampliações no Mosteiro e revela grande capacidade de governo.
Vive uma intensa vida espiritual, na união intima com Jesus Eucarístico e sua Santíssima Mãe. Percorre a Via-Sacra durante a noite, e a maior parte de seus êxtases vêm lhe frequentemente diante do Crucifixo do coro, “livro” de sua oração mais íntima.
Irmã morte
No final de seu triênio, as irmãs resolvem reelegê-la abadessa. No entanto, devido à sua debilidade física, permanece como Vigária. O estado de saúde de Ir. Maria Crucifixa agravou-se em abril de 1745 e prostrou-a ao leito.
Durante a enfermidade, que suportou com admirável paciência, permaneceu com o olhar continuamente fixo em direção a igreja em adoração ao Santíssimo Sacramento.
O médico declara seu fim próximo, mas, na noite seguinte, visitada por nosso Senhor e por Maria Santíssima, a moribunda levanta-se com o rosto transformado e põe-se a cantar suavemente. Finda a visão, queda abatida para enfrentar o último combate. A luta é visível nela, mas, por fim, o rosto torna-se sereno e a cabeça inclina-se. Entra serenamente numa breve agonia. É o dia 8 de novembro de 1745, aos 39 anos, Ir. Maria Crucifixa entra na vida eterna.
A glória dos altares
Sete anos após a sua morte, como consequência da extraordinária fama de santidade e de numerosas graças e favores atribuídos à sua intercessão, foi aberto o primeiro processo ordinário, em 18 de agosto de 1752.
Por dificuldades daqueles tempos, ele ficou suspenso e foi reaberto em 1826, com o Papa Leão XII e em 1914 com o Papa São Pio X. Em 14 de maio de 1992, um milagre atribuído à sua intercessão foi aprovado e finalmente, em 10 de outubo de 1993, o Papa João Paulo II a proclamou beata.
Oração para obter a canonização da Beata Mª Crucifixa Satellico
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, agradeço-Vos a abundância de dons e carismas com que haveis enriquecido vossa Serva Ir. Maria Crucifixa Satellico, e especialmente porque, dócil ao ardente desejo de oferecer-se totalmente a Vosso amor, consagrou toda a sua vida como modelo de castidade, pobreza e obediência. Digna-te, Senhor, glorificar na Igreja esta tua Serva fiel, para que resplandeça perante o mundo o valor apostólico da sua vida íntima escondida em ti com Cristo, teu Filho, participando singularmente da sua Paixão através de múltiplos sofrimentos, penitências e lutas vitoriosas contra a tentação.
Por sua intercessão, concede a todos os vossos filhos de obter plena vitória sobre o pecado e de amar-Vós sobre todas as coisas. Confiantemente imploro a graça que agora desejo se for conforme à Vossa santa vontade. Amém.
Pai nosso. Ave-Maria. Glória.
Pedimos comunicar graças alcançadas à
Postulazione frati minori conventuali
Basilica S. Giusepe da Copertino
60027 Osimo (AN)