“A jovem foi ao mosteiro das clarissas capuchinhas de Santa Maria das Neves e se apresentou com as palavras: ‘Quero me tornar santa.'”
Virgem da Segunda Ordem (1687-1737). Em 5 de maio de 1778, o Papa Pio VI decretou a heroicidade de suas virtudes, reconhecendo-lhe o título de venerável. Foi proclamada Beata em 3 de junho de 1900 pelo Papa Leão XIII.
Memória litúrgica: 27 de julho
Nascida no palácio ducal Martinengo, em Brescia, em 4 de outubro de 1687, após um parto difícil que cinco meses depois custou a vida de sua mãe, a nobre Margarida Secchi d’Aragona, foi batizada em casa, imediatamente, pelo risco de vida. Ela recebeu o nome da mãe. Em 21 de agosto de 1691, foi batizada sua irmã Cecília, nascida do segundo casamento de seu pai Francesco Leopoldo Martinengo, conde de Barco, com Elena Palazzi.
Margherita era muito inteligente e cuidadosamente educada. Aos seis anos, ela foi confiada à educação das Ursulinas. Sua mestra, Isabella Marazzi, a instruiu na oração e no estudo. O Breviário sempre foi sua leitura preferida e o rosário nunca estava fora de sua mão. Foi assim que aqueles mais próximos à ela a recordaram. Tinha uma grande assíduidade à leitura – mais tarde ela dirá de si mesma em sua autobiografia:
“Encontrei todo o meu contentamento na leitura” – adquiriu uma formação extraordinária na literatura italiana e latina que a valiosa biblioteca de seu pai lhe ofereceu em abundância.
Durante uma viagem, em sua infância, Margarida caiu de uma carruagem puxada por seis cavalos. Ela teria sido atropelada e esmagada se o toque de uma mão invisível a tivesse removido do perigo. Aos onze anos, em 11 de outubro de 1698, ingressou no internato do mosteiro das irmãs agostinianas em Santa Maria degli Angeli. Duas das irmãs eram suas tias maternas e lá ela continuou sua educação.
Sua primeira comunhão foi dramática. A Sagrada Hóstia caiu no chão, talvez por causa da intensa emoção do momento, e ela pegou-a com os lábios. Dias depois, foi atingida por um “tremendo resfriado”, e acreditou que o Senhor a tivesse julgado indigna.
Em agosto de 1699, Margherita pediu ao pai que lhe permitisse ir para o internato das beneditinas, pois sentia-se sufocada pelas tias. Antes, porém, ela passou férias com a família por alguns meses nas belas montanhas ao redor do Lago d’Iseo. Lá, começou a sentir o desejo pela vida contemplativa. Mais tarde, escrevou:
“aquelas regiões alpinas desabitadas e as grutas, eram tão bonitas que pareciam chamar-me para morar lá. Sem dúvida, eu teria fugido para eles, se o número de lobos não tivesse me assustado”.
Ela já havia tentado tal fuga em Santa Maria degli Angeli. Com duas companheiras, planejou uma fuga “para um eremitério, para sofrer lá o quanto quisesse”. No entanto, a porta secreta do mosteiro estava trancada e ela não conseguiu abrir a porta.
No mosteiro beneditino, havia outras duas tias maternas. Estas não eram tão apegadas quanto as duas primeiras, e estavam preocupadas apenas com sua saúde e seu futuro como uma mulher nobre na alta sociedade. Mais tarde, ela lembrou:
“Eu estava tão entediada que não teria me tornado religiosa lá nem por todo o ouro do mundo”.
Enquanto isso, sua vocação carismática ganhou foco. Sua oração interior a encheu de fervor.
Com treze anos, escreveu:
“prometi minha virgindade a Deus”.
A partir de então, foi atacada por todos os tipos de tentações. Foram anos terríveis. Aos dezesseis anos de idade, muitos pretendentes a queriam. Seu pai a havia prometido ao filho de um senador veneziano. Seus irmãos Nestore e Gianfrancesco levaram-lhe livros e histórias de romances. Margarida os leu noite e dia. “Livros do inferno”, ela se lembrará mais tarde. Gostava de se vestir com as roupas mais refinadas e vistosas. Um dia, no entanto, enquanto chorava diante do Tabernáculo, ela teve certeza de que, finalmente, se vestiria com o hábito grosseiro das Clarissas Capuchinhas. Essa convicção foi infundida nela por uma misteriosa luz interior e inspirada pela Mãe de Deus em uma visão, como ela mais tarde contou:
“E, no entanto, eu não sabia nada sobre as irmãs capuchinhas”. Ela tinha dezoito anos.
No final de sua educação no mosteiro de Santo Espírito, ela voltou para casa. O ano era 1704. Como ela diria a seu pai sua decisão? Enquanto algo dentro dela rejeitava a ideia, ela repetia constantemente que queria se tornar uma irmã capuchinha. Todos eram abertamente hostis à ideia: seu confessor, suas mestras, seu pai e irmãos, os criados em casa. Apenas quatro dias depois foi ao mosteiro das clarissas capuchinhas de Santa Maria das Neves e se apresentou com as palavras:
“Quero me tornar santa.”
Com a Quaresma, o Conde Leopoldo organizou para ela uma excursão por várias cidades italianas, como era costume na época. Enquanto isso, seu tio Giambattista organizou muitas reuniões com pretendentes elegíveis em Veneza. Um de seus filhos se apaixonou pela jovem condessa e pediu a mão dela. Margarida estava prestes a concordar e já teria enviado uma nota a seu pai a esse respeito, se um servo muito leal não a tivesse aconselhado a se recomendar primeiro ao Senhor para “receber alguma luz”. Margarida passou a noite em oração. Pela manhã, ela estava completamente determinada a seguir sua vocação:
“Eu teria aceitado qualquer desafio para entrar, tão certa que esta era a vontade de Deus”.
Ela voltou para Brescia. Após um curso de exercícios espirituais no Maggi College, em 8 de setembro de 1705, acompanhada por uma alegre procissão de carruagens, chegou ao mosteiro de Santa Maria della Neve, para iniciar o noviciado. Recebeu o santo hábito e o novo nome de Ir. Maria Madalena. Em sua autobiografia, ela descreve assim:
“Ó Deus! Como eu estava sofrendo. Minhas três companheiras entraram, uma a uma. Sendo eu a última, fui fortemente abraçada por uma senhora a quem acho que o diabo inspirou para me oprimir. Eu dei esse passo com tanta violência que realmente acredito que a separação da alma do corpo não será maior. ”
O ano do noviciado estava sob a direção de uma mestra rígida. Foi um ano de cheio provações e secura, tanto que, no primeiro relatório da comunidade, Ir. Madalena foi considerada imprópria para a vida capuchinha: “seria a queda do mosteiro”. No entanto, quando a mestra foi mudada, as irmãs a apoiaram por unanimidade em uma votação posterior. Assim, em 8 de setembro de 1706, Ir. Madalena foi definitivamente consagrada a Deus pela profissão religiosa.
A condessa Margherita, agora Irmã Maria Madalena, tornou-se lavadora de louça, ajudante de cozinha, porteira, jardineira, padeira, varredeira, lavadeira, tecelã, fabricante de calçados, refeitoreira, costureira, secretária, bordadeira, assistente de sacristia, mestra de noviças, vigária e abadessa.Os trinta e dois anos que passou no mosteiro, imersa na vida cotidiana do trabalho pesado de um pobre mosteiro do século XVIII, podem parecer monótonos, no entanto, o magnífico panorama de sua espiritualidade, evidente em seus maravilhosos escritos, nos dizem o contrário.
Em 1708, um padre jesuíta pregou exercícios espirituais marcadamente jansenista. Isso despertou nela um medo tão excessivo do julgamento divino que desmaiou de febre alta. A doença rapidamente pareceu ser séria, até mortal. No entanto, seguindo o conselho de seu confessor, que a ouviu em confissão geral, banhada em lágrimas, Ir. Madalena experimentou o dom da perfeita reconciliação e completa absolvição de seus pecados, bem como a cura da doença. A poderosa ação de Deus já estava operando dentro dela com uma força de amor e dor que a tornava uma “esposa encharcada de sangue”.
Todos os grandes dons místicos encontraram nela uma disponibilidade total. Entre os quais a estigmatização invisível e o matrimônio místico. Sua jornada espiritual passou da oração afetiva à contemplação infundida. Ela mesma tentou descrever esse ponto.
“Eu segui meu método de falar com Deus”, ela escreveu em sua autobiografia, “mas porque eu estava fazendo isso com maior amor e com mais diligência, o Senhor em sua infinita bondade correspondia comigo dentro das palavras mais doces. Enquanto falava assim, coloquei minha cabeça no chão. Imediatamente no fundo do meu coração o Senhor me respondeu: ‘Querida filha, você me ama, mas sem comparação eu te amo mais.’ Eu disse a ele: ‘Senhor, tome meu coração. Não o quero mais’. Ele ficou satisfeito com a oferta. E pareceu-me que, ao remover meu coração, ele colocou ali o Seu próprio – todo em chamas de amor. E eu, incapaz de sofrer a claridade dessa luz e queimar dessa maneira, desmaiei no ardor que me consumiu docemente”.
O fogo do amor divino continuou a consumi-la. Para extinguir esse fogo sensível, ela infligiu penitências inacreditáveis a si mesma, que sua humildade escondia até dos médicos. Dentro do pequeno espaço de convivência, como o de um mosteiro, estes passaram quase despercebidos. O ciúme, o ressentimento ou a curiosidade de algumas irmãs, os truques juvenis das noviças e as táticas furtivas de observação elaboradas pelas irmãs não podiam arranhar sequer a superfície de seu segredo de amor e sofrimento. Tudo isso passou quase em segredo dentro de uma vida comum. Seus sofrimentos físicos foram superados por seus sofrimentos espirituais e morais. Quatro irmãs se opuseram a ela até sua morte. Um confessor queimou seus escritos, por considerá-los heréticos. Um vigário do mosteiro a proibiu de falar sobre coisas espirituais com suas antigas noviças. Ela suportou tudo.
“É necessário agir de forma mais heróica nas coisas mais difíceis.”
Sua experiência espiritual permanece em seus numerosos manuscritos, alguns dos quais começou a escrever por obediência: sua Autobiografia, Commento alle Massime spirituali de Frei Giovanne di San Sansone, relatórios para seus diretores espirituais; outros o fez por insistência de suas noviças: Avvertimenti spirituali, Spiegazione delle costituzioni cappuccino, Trattato sull’umiltà; e outros por sentir-se interiormente impelida a escrever, como o Dialogi mistici.
Madalena Martinengo foi literalmente consumida pelo amor divino. Em 1737, quando renunciou ao ofício de abadessa, seu corpo já estava exausto. Durante seus longos períodos de desmaio, suas irmãs finalmente puderam descobrir em seu corpo martirizado as marcas de suas tremendas penitências. Pelas irmãs que choravam, com ternura materna, ela comeu alguns docinhos que tinham posto em uma pequena cesta à sua frente. Ela rezou alguns versículos da Sagrada Escritura. Então ela foi ouvida sussurrar:
“Eu estou indo, eu vou, Senhor!”
Serenamente, ela deu o último suspiro. Era 27 de julho de 1737, com trinta e dois anos de vida religiosa e com quase cinquenta anos de vida.
A causa de canonização foi introduzida em 1° de setembro de 1762. Em 5 de maio de 1778, o Papa Pio VI decretou a heroicidade de suas virtudes, reconhecendo-lhe o título de venerável. Foi proclamada Beata em 3 de junho de 1900 pelo Papa Leão XIII.
Oração para obter a canonização da Beata Maria Madalena Martinengo
Senhor Jesus, tu que escolhestes a Beata Maria Madalena Martinengo, a fim de que com a sua vida escondida chamasse os homens à oração, à penitência e à humildade para viver em comunhão com a Igreja mediante o encontro conTigo na Eucaristia. Te pedimos tornar ricos de graça os dias e as obras da Beata Maria Madalena, a fim de que o Teu reino de amor, se edifique sobre a terra para a salvação da humanidade por Ti redimida.
Pai Nosso…
Virgem Maria, Mãe de Deus, a Beata Maria Madalena Martinengo manifestou um amor filial para contigo; obtende da Trindade Santa que possa ser sempre mais venerada, ela que tanto amou Teu Filho e compartiu da Sua Paixão por nós.
Maria Auxílio dos Cristão, rogai por nos!
Salve Rainha…
Oremos: Ó Deus, nosso Pai, que comunicastes a Beata Maria Madalena Martinengo o dom inefável da tua intimidade e a associastes à paixão do teu Filho feito homem, Te pedimos ajudar-nos a carregar com alegria a Cruz para compartir as alegrias da gloriosa Ressurreição de Cristo, nossa segura esperança. A intercessão desta nossa Beata Irmã nos obtenha os favores da tua misericórdia, e particularmente ….., a serenidade dos corações e o alívio dos corpos para que assim possamos nos dedicar serenamente ao teu serviço na caridade operosa para com irmãos.
(3x) Glória ao Pai…
FONTES:
1- https://www.capdox.capuchin.org.au/ (Tradução do artigo de Costanzo Cargnoni em "Sulle orme dei santi", 2000, p. 161-170)
2- www.claustrum.com.br/
Compilação e adaptação:
Mosteiro Maria Imaculada
Mosteiro Maria Imaculada